A palavra: comunicação de deus que nos encontra na verdade
No mês de setembro, a Igreja como sempre dedica especial atenção à Bíblia, que etimologicamente significa o conjunto de livros sagrados que formam uma biblioteca. Daí deriva, o termo Bíblia, que também, sabiamente a denominamos de Sagrada Escritura, Palavra do Senhor, Palavra da Salvação, Palavra de Deus. Nossa fé, sustenta aquela certeza absoluta, conforme o ensinamento da sã doutrina da Igreja, que a Sagrada Escritura foi escrita por mãos humanas sob a inspiração do Espírito Santo. O propósito de realçarmos a importância da força da Palavra dá-se porque ela é para nós cristãos fonte de verdade, fonte de vida na Fé, fonte de toda a Criação, de toda Revelação, Redenção e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e confiança na Aliança Eterna de Deus com a humanidade. A Palavra comunicada por diversas modalidades, tanto a Palavra escrita acolhida mediante leitura pessoal como a proclamada nos grupos, assembleias e encontros acolhida na escuta, gera a novidade do encontro com a verdade. A verdade total e absoluta, segundo a nossa fé, trata-se do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A vida concebida de forma integral sempre se destaca como razão de Deus se revelar no processo da História da Salvação. Tal constante no Deus da Bíblia é central nos autênticos escritos do Antigo e Novo Testamento, que se complementam e se reforçam na dinâmica histórica de um Deus que se revela contra toda a ordem de injustiça e escravidão. Sendo assim, é impossível pensar o Antigo Testamento sem o Novo e impossível pensar o Novo Testamento sem o Antigo. A revelação de Deus acontece num processo histórico de um povo realmente contextualizado que gradativamente evolui em termos de concepção da vontade do Senhor. A História da Salvação é a História de Deus e a História da Humanidade, pois não existem duas histórias, a História é o lugar predileto da Revelação de um Deus que salva.
Para a pessoa de Fé, a História encontra o seu sentido pleno somente na Palavra. Toda a obra de evangelização da Igreja dá-se em difundir a verdade dessa Palavra enquanto reveladora do princípio e do fim. Para o fiel, mistério da vida não encontra explicação fora de Deus, pois somente Ele é a verdade absoluta sempre eterna. A interpretação da vida e de sua história à luz da fé na Palavra, remete a considerarmo-nos homens e mulheres da Palavra e não exclusivamente de pessoas presas às letras do Livro, mesmo tratando de um Livro Sagrado. Tudo o que contém na Bíblia é Palavra divina, contudo nem toda a Palavra divina está contida na Bíblia. Como bem nos escreve o Papa Bento XVI em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal VERBUM DOMINI, n. 7: “... na Igreja, veneramos extremamente as Sagradas Escrituras, apesar da fé cristã não ser uma ‘religião do Livro’: o cristianismo é a ‘religião da Palavra de Deus’, não de ‘uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’ . Por conseguinte a Sagrada Escritura dever proclamada, escutada, lida, acolhida e vivida como Palavra de Deus, no sulco da Tradição Apostólica de que é inseparável.” A Palavra de Deus presente na Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério da Igreja, não é uma letra inanimada, mas uma Palavra portadora de alma, tanto que as diversas modalidades dela ser transmitida sempre se renovam de acordo com os diversos contextos históricos e sociais. Uma Palavra problematizada, constantemente situada nos contextos do tempo e do espaço. Sendo assim, propõe-se como verdade dialogável em busca de soluções humanísticas para as diversas situações de conflito, e nunca como recurso excludente. A Palavra devidamente interpretada é geradora de tolerância, respeitosa, amorosa, motivadora de inclusão, enfim acolhedora. Ao acolhermos a Palavra em nossos corações, automaticamente acolhemos os nossos irmãos na Fé, com especial atençãos aos mais necessitados. Livre de certos preconceitos culturais, a Palavra é fonte de inculturação. A Palavra interpretada com chave de leitura fundamentalista gera fanatismos e preconceitos, colocando-se a serviço de seitas, facções ou ideologias religiosas promotoras de violência, de terrorismo e guerra, mas a Palavra de Deus que dispõe de uma chave de leitura que a interpreta à luz da justiça, da Paz e da vida humana como dom sagrado, desde a fecundação até o seu término natural, sempre é caminho de amor e libertação. Os sinais dos tempos sempre são assistidos pelos sinais de Deus através de sua Palavra, da qual sempre extraímos tantos elementos novos adequados à nossa realidade concreta. A Palavra de Deus alimentada pelo Espirito Santo sempre é vigorosa em busca de renovação da face da terra. A Palavra é encarnada no seio da Igreja e na História da humanidade, a Palavra que encontra-se presente na Bíblia também encontra-se em nosso 5º Plano de Ação Evangelizadora, em todos os nossos setores orgânicos de instrumentos eclesiais, como alimento de espiritualidade, fortalecimento na Fé, e impulso de compromisso de todos os cristãos que comungam um só Batismo para com os tantos desafios existenciais e sociais.
Não canso de exortar com certa teimosia os queridos irmãos e irmãs cristãos, que se esforcem em demonstrar um grande amor pela Palavra do Senhor, considerando-a e assumindo-a como riqueza para a sua vida de oração. Como gesto concreto em nossas famílias e comunidades eclesiais em geral, poderíamos começar ou continuar a praticar a leitura Orante da Bíblia, também tradicionalmente conhecida por Lectio Divina.
Queridos fiéis, que a mensagem da Palavra os torne sempre mais santos e atuantes para o nosso bem, bem de todas as famílias, bem de todo o povo de Deus.
Em Cristo Jesus,
Paz e Esperança!
DOM SIMÃO