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Notícia

02 Fev, 2015

Na trilha da ética da paz

 

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NA TRILHA DA ÉTICA DA PAZ

No início do mês de janeiro de 2015 escrevi e publiquei um artigo sobre o tesouro da paz, comentando com brevidade os pontos da mensagem do Papa em virtude da passagem do Ano. O tema da paz merece no tempo atual uma especial atenção, já que 2015 a Igreja consagrou como o Ano da Paz.

Começamos o ano de 2015 falando de paz. Mas nem bem o começamos, ainda em janeiro ficamos comovidos por trágicos fatos sucedidos no mundo: destaco a ação violenta promovida na França por integrantes   do estado islâmico;  a condenação sucedida de execução do brasileiro aprisionado na Indonésia Marco Archer acusado de tráfico de drogas. Há um outro brasileiro no corredor da morte, Rodrigo Gularte, cuja execução deve ser confirmada neste mês de fevereiro. Além dos dois, tantos já foram e serão executados pelo Estado carrasco; os tantos focos de violência ocorridos no mundo e no Brasil.

Na pretensão de não se estender em exaustivos comentários sobre os assuntos acima elencados, detenho-me apenas no primeiro locado, quanto aos demais deixo para outras oportunidades, contudo, genericamente os menciono em nome da paz, pois simplesmente ignorá-los seria um gesto de indiferença social e incoerência com as exigências da vida cristã. Mesmo porque, como cristãos, temos um sério compromisso com a efetivação da paz. O discipulado e a missionariedade objetivam a paz. Mais do que nunca, neste ano propício, precisamos abraçar uma nova consciência ética. Refiro-me à ética da vida, ética do cuidado, da proteção e do amor.

Em meio à violência presente na sociedade global contemporânea acompanhada pela permissividade descontrolada, constatamos uma enorme falta de respeito para com o direito à vida integral, não só referente à física, mas a vida em sua total circunstancialidade social. Respeito aos seus aspectos morais, religiosos, psicológicos e culturais, condição obrigatória para conseguiremos trilhar ao encontro da Civilização do Amor. Portanto, mais que nunca, para a salvação da humanidade, necessitamos abraçar o Ethos do respeito, do cuidado, da proteção e da solidariedade. A trilha da ética da paz almeja um novo humanismo.

O atentado de integrantes do denominado “estado islâmico” aplicado sobre profissionais do jornal francês Charlie Hebdo é um crime hediondo, não se trata só de uma ação violenta a pessoas em um certo país, mas é um crime que atinge toda a humanidade. Tal procedimento não poderia e jamais poderá ficar impune. Tal tipo de ação em nome de uma religião, em nome de uma divindade, não resiste à crítica em nosso tempo histórico. O que maltrata o humano, maltrata o próprio Deus Criador. O ser humano é propriedade de Deus segundo a Fé no Deus amor, e assim, violar a propriedade de Deus clama justiça aos céus. Privar o próximo do direito à vida é transgredir os direitos de Deus, portanto pecado grave e mortal. Como todas as confissões religiosas, o islamismo tem as suas verdades. O Alcorão tem as suas verdades como livro da paz. Porém, o que acontece é que algumas seitas fundamentalistas assumem o islamismo da forma como bem entendem, ideologizando-o, instrumentalizando-o, e em nome do Deus ALÁ, em nome do profeta Maomé, em nome do Alcorão, promovem o terrorismo. Isso prejudica a vida de muitos muçulmanos de fé em ALÁ como Deus amor e acaba sucedendo a criação de preconceitos generalizando todos os que seguem o Alcorão como agentes do terror. Todas as confissões religiosas, cristãs e não cristãs, somente têm sentido se conceberem Deus, em todas as concepções que se tem Dele, com todos os nomes atribuidos a Ele, como um Deus Amor que valoriza profundamente a vida e a tem como sagrada. O procedimento violento dos terroristas em Paris é uma afronta à vida e a Fé da humanidade. Às organizações religiosas  portadoras de ódio e aos seus militantes radicais , registro o meu repúdio.

Na trilha da ética da paz necessitamos do empenho de todas as confissões religiosas do mundo, pois temos mais motivos para nos unir que nos desunir em busca do denominador comum que é a riqueza da paz. Com as diferenças de cada doutrina confessional e ao mesmo tempo com respeito a elas, independente de as aceitarmos ou não, a ética mundial não prescinde de um ecumenismo e de um diálogo inter religioso prático.

Na trilha da ética da paz totalmente inversa à “pax romana” (ideologia dos impérios despóticos, conquistadores: faz-se a guerra para conquistar a paz; faz-se a guerra para  conquistar liberdade; faz-se a guerra para conquistar democracia), considera-se os diversos valores dos diversos segmentos da sociedade global. Já não é mais só o ponto de vista que vale, mas, sobretudo, a vista do ponto. As verdades exaurem as delimitações da verdade de um único ponto de vista. Já não posso impor a minha verdade como absoluta e que, portanto todos devem aceitá-la e defendê-la por força da conversão e das armas. Nesse aspecto, quanto à precariedade ética do cuidado, do respeito, se encaixa a mediocridade profissional do veículo de comunicação francês titulado por Charlie Hebdo.  Na trilha da ética em busca da sociedade do amor tal meio de comunicação francês é nocivo. Numa sociedade democrática de direito é preciso zelo com os autênticos valores sociais, dentre os quais o religioso. Pessoalmente, confesso que fiquei chocado devido a falta de sensibilidade por parte de tal imprensa e isto não só enquanto agressão ao islamismo como também ao cristianismo. Em leituras do jornal A Folha de São Paulo publicado em 08 de janeiro de 2015, via On Line pelo UOL, deparei-me com duas charges desrespeitosas e agressivas à fé cristã: uma dessas charges satiriza, ridiculariza uma mulher dando a luz um menino todo irradiado, fazendo alusão a Nossa Senhora e ao Filho de Deus Jesus Cristo; uma outra charge, mostra uma cena erótica entre as três pessoas da Santíssima Trindade. Também tomei conhecimento que outros meios de comunicação têm divulgados as charges do referido jornal francês. O que responder diante disto? Eu não sou Charlie. A fé cristã não pode ser Charlie. Deus não é Charlie. A liberdade de imprensa, direito conquistado com não pouco sacrifício no processo democrático da civilização ocidental é lançada fora por tamanha banalidade assumida por tal meio de comunicação. É simplesmente revoltante. Tomo a liberdade de repudiar tal tipo de imprensa que em nome da liberdade de expressão extrapola os limites éticos angustiando não poucos crentes. A liberdade concebida como total possibilidade individualista é confundida com permissividade e libertinagem, dificultando as sociedades engrossarem a caminhada na trilha da ética da paz.

Mesmo angustiados, nós cristãos não perdemos o ânimo e a alegria, continuamos perseverantes na Fé.  Mesmo feridos e em prantos, teimamos em prosseguir na trilha direcionada a uma nova ética mundial, não respondemos com violência, respondemos com a força das idéias, da misericórdia e do perdão como assim nosso Deus, uno e trino, nos ensina.

Amados fiéis cristãos da Diocese de Assis, nunca se calem diante da violência, nunca deixem de anunciar o imenso Amor de Deus para conosco. Como o Deus da Revelação cristã, sejam militantes da ética da Paz. Senhor, fazei de nós um instrumento de vossa paz.

 

EM CRISTO JESUS,

PAZ E ESPERANÇA!

 

 

DOM SIMÃO!

  

Artigo: Mês de Janeiro de 2015: "ANO DA PAZ"

 

 

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