Escuta FM

Notícia

24 Jul, 2020

A FÉ EM TEMPOS DIFÍCEIS - PADRE ALAN DA CRUZ JOAQUIM

A FÉ EM TEMPOS DIFÍCEIS - PADRE ALAN DA CRUZ JOAQUIM

 

A Pandemia do novo Coronavírus impôs a cada um de nós uma mudança na rotina e uma série de privações, inclusive a vida na comunidade eclesial sofreu sérias mudanças, como a suspensão da Santa Missa com a participação dos fiéis e alguns dos Sacramentos.  Diante da realidade que vivemos não podemos jamais permitir que a nossa confiança em Deus seja abalada, ao contrário, precisamos seguir aquele precioso conselho que se encontra na primeira carta de São Pedro: “Lançai sobre Ele [Deus] toda a vossa preocupação, pois Ele cuida de vós” (1 Pd 5, 7).

Santo Agostinho nos que diz que “Deus, por ser sumamente bom, não permitiria de modo algum a subsistência de qualquer mal em suas obras, se não fosse onipotente e bom a ponto de extrair o bem até do mal” e é justamente baseado nessas palavras que o Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a fé nos dá a certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não tirasse o bem, por caminhos que só conheceremos plenamente na vida eterna” (n. 324).

A Sagrada Escritura está repleta de histórias que confirmam esta realidade, temos no Antigo Testamento, por exemplo, a vida de José do Egito que sofreu a perseguição de seus irmãos e foi vendido como escravo (Cf. Gn 37), e no Egito, ganhou as graças do faraó devido ao seu dom de interpretar os sonhos, recebendo assim, alto cargo no governo do país (Gn 41, 40), o que permitiu que ele ajudasse a seus irmãos no período de escassez que viveram (Cf. Gn 42, 24-26) e, por fim, José concedeu o perdão aos seus irmãos com as seguintes palavras: “Não tenhais medo! Estou eu, por acaso, no lugar de Deus? Vós planejastes fazer o mal contra mim, mas Deus converteu-o em bem” (Gn 50, 19-20).

No Novo Testamento, por exemplo, encontramos no Evangelho de São João, a comovente história daquele homem em Jerusalém que estava enfermo há trinta e oito anos e que esperava à beira da piscina de Betesda a ocasião para ficar curado, “porque o anjo do senhor se lavava, de vez em quando, na piscina e agitava a água: o primeiro, então, que aí entrasse, depois que a água fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse a doença” (Jo 5, 4), ele, porém nunca teve a possibilidade de entrar nessa água, não houve quem sentisse compaixão dele, ao contrário, sempre alguém se antecipava e entrava no momento oportuno, ao invés de levá-lo (Cf. Jo 5, 7). Este homem teve um encontro com nosso Senhor Jesus Cristo; aquele que esperava a agitação da água por uma criatura angélica estava agora frente a frente com uma Pessoa Divina, superior a qualquer criatura, a Segunda Pessoa da Trindade Santa, Aquele que é, como professamos no Credo, consubstancial ao Pai, que lhe ofereceu dois grandes bens, a saber, a cura física: “Levanta-te, toma teu leito e anda!” (Jo 5, 8) e a cura espiritual com o perdão de seus pecados, quando disse: “Eis que estás curado; não peques mais” (Jo 5, 14).

Nestes dias em que fomos surpreendidos por esta pandemia, tivemos a oportunidade de experimentar, apesar de tantos sofrimentos, benefícios naturais  e espirituais. Dentre tantos benefícios naturais, assistimos a solidariedade de tantas pessoas, nas doações para socorrer os mais; se aprimorando na confecção de máscaras para proteger seus semelhantes; outros se colocaram à disposição daqueles que se enquadram no chamado grupo de risco para realizar os serviços essenciais, como ir aos supermercados, farmácias e etc. De fato, é possível observar o crescimento do Bem, apesar das adversidades.

Dentre os benefícios espirituais observa-se a tomada de consciência sobre a importância da oração em família, a “Igreja Doméstica” como nos atesta o Concílio Vaticano II (Lumen Gentium, n. 11); a impossibilidade de frequentar os sacramentos, fez com que cada fiel valorizasse ainda mais a importância de prestar culto a Deus e o encontro com a comunidade de fé, podemos afirmar que muitos enxergaram nestes acontecimentos um chamado à sincera conversão e se recordaram das palavras do profeta Isaías: “Buscai o Senhor enquanto se pode encontrá-lo; Invocai-o, enquanto está perto” (Is 55, 6).

  Em muitas Dioceses a Missa Pública foi suspensa, porém com a recomendação de que os sacerdotes celebrassem a Missa Privada. Por mais dolorosa que seja, tanto para os fiéis leigos como para os sacerdotes, essa experiência fez com que reforçássemos ainda mais nossa fé na doutrina católica que compreende a Igreja como um Corpo, onde “se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1Cor 12, 26), e ainda mais sobre o exercício do sacerdócio ministerial em favor do povo, pois o sacerdote “pelo poder sagrado que é investido, organiza e rege o povo sacerdotal, oferece o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo e em nome de todo o povo” (Lumen Gentium n. 11), e este sacrifício é perfeitamente  válido, mesmo que celebrado sem a participação dos fiéis, conforme nos ensina o Papa Pio XII, retomando as palavras do Antigo Missal: “Toda vez, com efeito, que o sacerdote repete o que fez o divino Redentor na última ceia, o sacrifício é realmente consumado e tem sempre e em qualquer lugar necessariamente e por sua intrínseca natureza, uma função pública e social, enquanto o ofertante age em nome de Cristo e dos cristãos, dos quais o divino Redentor é Cabeça, e oferece a Deus pela santa Igreja católica e pelos vivos e defuntos.” (Mediator Dei, n. 86).

Que dentre os bens que o Senhor quer tirar dos males que vivemos nos últimos tempos esteja a tomada de consciência, de cada sacerdote, sobre sua vocação primeira no corpo eclesial, de modo que cresçam na santidade querida por Deus; a perseverança dos seminaristas e que seja cada vez maior o desejo de se consagrarem a Deus, pelo sacramento da Ordem, e assim oferecer o Santo Sacrifício, perdoar os pecados e desempenhar publicamente o ofício sacerdotal em nome de Cristo a favor dos homens (Cf. Presbyterorum Ordinis, n. 2), bem como o exercício da caridade entre as famílias cristãs e a paz em todo o mundo.

 

Padre Alan da Cruz Joaquim

Reitor do Seminário Diocesano São José - Assis/SP

Diocese de Assis

 

 

COMPARTILHAR